Era Inverno !!!

O caminho que percorro para ti é feito com passadas largas e firmes, não há tempo a perder. Encontro-te mesmo ali, na ponte que liga o teu olhar com o meu abraço. Estás linda como sempre acontece, sinto ao longe e em ti cheiros de outros locais onde já nos cruzámos, apesar do vento soprar em direção contrária e fazer com que  os cabelos escondam o teu olhar meigo e maroto.

Enquanto caminhas graciosamente para o meu afago, olhando com admiração tudo o que te rodeia, molhas os lábios tornando-os húmidos e suaves como as sedas trazidas de rotas de navegantes de outrora, e suspiras por um beijo quente ou por palavras que perfurem a monotonia destes minutos que demora o re-encontro. Enquanto caminho fixo-te como se fosse a primeira vez, o coração bate acelerado, afinal a emoção de te abraçar é a mesma do primeiro dia.  

Aliás ainda me lembro desse dia. Saímos juntos, passeámos e deste-me o braço num gesto de carinho. Andamos e conversamos completamente ausentes do movimento que nos rodeava, das pessoas que se cruzavam ou do frio que nos aqueceria o futuro.
Era inverno.
Era só́ isso que importava....

Construíste um muro alto, uma porção de amarra que nos asfixia, que nos faz sentir solitários. 
Fizeste-o ignorando paixões, amores, desejos, fantasias, até algumas loucuras que achas descabidas, ignoraste por completo um grande amor, e nem te    apercebeste de quanto o tempo pode ser longo e triste quando estamos com alguém.... mas sozinhos, o tempo que é preciso para conseguir saltar esse muro demasiado alto, ou o tempo que é preciso para se acostumar a estar deste lado do muro, o que nos faz sentir demasiado pequenos para aquilo que sentimos por alguém.
Preciso do teu amor, quero o teu afago, preciso de um tempo novo, um tempo que não seja tão solitário como o rio que sozinho corre para o mar, apesar d’mar o receber de braços abertos, porque é sempre um êxtase a reunião dos dois numa qualquer foz, apesar de todos os dias se repetir o mesmo encontro, apesar de ne-nhum  dos dois se trair, não deixam se ser caminhos de solidão e preocupação.
Ás vezes não sei de mim nem de ti, não te encontro no nosso destino, não navego se calhar na direção certa, não sei se és o principio do meu fim, ou se és o meu ponto de chegada.
Conheço um destino que nos prometemos procurar, mas nesse destino, e nesse caminho para esse destino não havia muros, não havia solidão nem tempos mortos. 
Esse bocado de vida que eu conhecia, era feito de abraços, choros, risos e alguns perfumes que alegravam os nosso pedaços de cumplicidade. 
Neles o dia não tinha 24 horas nem o ano 365 dias, nesses pedaços só havia eu e tu, e era isso que importava.
Sentido da vida?? Sim!!!

Revejo-me nas ondas do mar e nas brisas que abanam os campos de milho, nas chuvas de Inverno que alimentam enormes culturas e arvoredos e nas neves gélidas que branqueiam e iluminam serras imensas onde os verdes e castanhos adoram mudar de cor, sinto-me nas correntes deslizantes que empurram os rios para o mar e nos lagos calmos de águas tépidas que embelezam locais eni-gmáticos, arrepio-me enquanto escuto a natureza a gritar de tanto ser invadida e pelo desrespeito pela vida humana que acontece no mundo,  enojo-me quando os homens matam e quando impedem a vida de seguir o seu caminho natural,  aqueço-me quando o sol nasce no horizonte da minha cidade e refresco-me quando a lua ilumina a noite de um qualquer mês do ano, refugio-me do calor infernal de Agosto em pleno Alentejo e do frio irritante e húmido da minha cidade num perfeito Inverno. 
Deleito-me junto à lareira onde luzes crepitantes e formas de fogo em êxtase cospem calor e queimam fantasias imaginárias.Sento-me e descanso de mim e do dia, levanto-me e percorro bocados de mim e de ti, deito-me e adormeço com a esperança de mais um dia contigo, acordo e tudo acontece de novo.  
Sentido da vida?? Sim!!!